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No Việt Võ Đạo, existem figuras que se destacam, não apenas pela sua técnica, mas também pela dedicação, ensino e, acima de tudo, pelo impacto duradouro que deixam na comunidade. Uma dessas personalidades marcantes é o Mestre Filipe Leite de Sousa, o sócio número um e fundador da DAO - Associação Cultural e Desportiva.

Hoje vamos conhecer um pouco mais sobre ele.

Pode contar-nos um pouco sobre o seu percurso no Việt Võ Đạo?

Iniciei a prática de Artes Marciais em 1976, mas vou tentar não vos maçar com pormenores, referindo as fases mais importantes desse percurso:

Comecei a praticar de Karaté na Academia Soshinkai de Artes Marciais, secção de Espinho (hoje APAM – Associação Portuguesa de Artes Marciais), no Pavilhão Gimnodesportivo da recém-inaugurada Escola Manuel Laranjeira, tendo só chegado a cinto laranja.

Quando há uma cisão na Soshinkai, um grupo pretendia seguir Mestre Trần Hữu Hà que, entretanto, tinha abraçado a prática de uma Arte Marcial Vietnamita que dava os primeiros passos em França e, por volta de 1979, concretiza-se essa mudança gradual para o Việt Võ Đạo, tendo obtido a minha primeira graduação em 1980. Em 1984, a convite de Carlos Santos, passei a exercer funções de instrutor, iniciando este percurso em Paços de Brandão, no que veio a tornar-se a DAO – Associação Cultural e Desportiva. No ano seguinte, em Santa Maria da Feira, iniciei outra classe, onde dei aulas, até ter sido chamado a cumprir o serviço militar, altura em que dada a minha impossibilidade, fui substituído por Manuel Oliveira, infelizmente já falecido e a classe extinta.

A 29-03-1989 atingi o almejado Cinto Negro, continuei a praticar e a ensinar Việt Võ Đạo, até que há, a extinção da APVVD – Associação Portuguesa de VIET VO DAO, por volta de 2000, continuando a seguir Mestre Trần, que, entretanto, tinha criado um estilo próprio, o Hiệp Khí Võ Đạo Minh Tâm, do qual fui fundador em Portugal. Infelizmente este projecto não sobreviveu à morte de Mestre Trần, que ocorreu em 2004.

Antes de entrar no período seguinte, também referir na APVVD fiz competição de quyền e combate, exerci diversos cargos, organizei eventos, fui editor de uma revista, etc. Participei em todos os estágios e eventos e acompanhei ao máximo Mestre Trần.

Seguiu-se um período conturbado, de indefinição que passou por em Abril de 2007 criar um nome para o que fazíamos, que escolhemos ser TRAN SU VOVIET, para o qual contamos com o apoio e liderança de um dos fundadores da INTERNATIONAL VIET-VO-DAO, Mestre PHAN HOANG, de quem recebi a graduação de 4º Đẳng, em Julho de 2008 e a atribuição do nome marcial HOÀNG-LĨNH Đông-Hùm. Também com Mestre PHAN HOANG, por volta de 2007 início a prática de VIET TAI CHI, assim como outras disciplinas por ele criadas e com quem tive a oportunidade de estagiar, intimamente treinar e conviver, a quem passei a seguir um pouco por toda a Europa até 2012. A Mestre PHAN HOANG devo o salto enorme que dei na visão que passei a ter de todo este universo. Com a criação em Setembro de 2011, da AMV – Federação VIET CHI (hoje Artes Marciais Vietnamitas – Federação Portuguesa) de que sou fundador e a consequente aproximação à EVVDO – EUROPEAN VIET VO DAO ORGANIZATION, com sede em Heidelberg, Alemanha, da qual em 2012, passei a ser membro da Comissão de Ética, Júri e arbitro de nível Internacional, foi possível voltar a treinar com os Mestres referentes e carismáticos, como Mestre Nguyễn Văn Việt, Mestre Đỗ Long, Mestre Bảo Lan, Mestre Trần Việt Tung e Mestre Nguyễn Thiện Chính, assim como muitos outros, abrindo-se uma nova convivência e retorno ao uso do nome Việt Võ Đạo, assim como retomar a competição, no caso a nível Europeu.

A minha ida ao Vietnam em 2016, na sequência da criação da WORLD FEDERATION of VIETNAM VOCOTRUYEN trouxe-me possibilidades “infinitas” na relação com outros estilos e escolas do Vietnam, que muito me tem enriquecido e, que não fora o COVID teria tido ainda mais importância para o que faço e para a organização que lidero.

Também tenho tido alguma intervenção na organização e treino das equipas de competição, inicialmente no âmbito da EVVO e para competir em Opens e mais recentemente nesta nossa maior ligação com a WFVV e do fruto do trabalho que se tem desenvolvido com a ajuda dos Mestres Italianos, em competições do mais alto nível como foi o Campeonato do Mundo de Artes Marciais Tradicionais Vietnamitas.

Quem foram as suas maiores influências e mentores nesta arte marcial?

Destacarei dois níveis, de início enquanto praticante, Carlos Santos e, quando iniciei a instrução Alfredo Carvalho. Depois, referindo cronologicamente que não por ordem de importância, como já referi a grande importância Mestre PHAN HOANG, mais recentemente Mestre Bảo Lan e, sempre Mestre Trần Hữu Hà.

Como descreveria a filosofia central do Việt Võ Đạo a alguém que é novo nesta prática?

De uma forma simples, utilizaria o mote do Việt Võ Đạo que é “ser forte para ser útil” para me ajudar a responder, com a actualização dada por Mestre PHAN HOANG: “Ser Forte, Ser Útil, Ser Feliz”, pois tudo o resto, como mensagem advém daqui. Só quem é forte pode dispensar a futilidade, recusar a violência e almejar ser feliz.

Pode partilhar uma experiência memorável da sua jornada nas artes marciais?

Nesta longa jornada tenho tantas que é difícil escolher, mas talvez pelo simbolismo e importância, o exame que fiz para 4º Đẳng no asfalto do Regimento de Infantaria em S. Jacinto, perante Mestre PHAN HOANG e ter sido escolhido para fazer, em nome dos árbitros e juízes do Campeonato do Mundo de 2018 em Hanói, o juramento Olímpico.

Quais são os benefícios únicos do Việt Võ Đạo em comparação com outras artes marciais?

Nenhum.

Como é que a prática do Việt Võ Đạo influenciou a sua vida fora do tapete?

A prática de Việt Võ Đạo, alterou, moldou profundamente os meus comportamentos e atitudes. Sou naturalmente impulsivo, impaciente ao mesmo tempo que introvertido e tímido. A prática foi-me dando ferramentas para lidar com isso e ajudar a fazer o que quero e como quero, passando a minha escolha, ou seja, aquilo que acho que devo fazer, ser o que faço, ao invés de reagir impulsivamente ou a retrair-me. Isto digamos de uma forma simplista, pois como é evidente é muito mais complexo e elaborado que isto. Noutro patamar, a componente física inerente à prática, ajuda ao meu bem-estar, ao descarregar a energia que nos faz sentir bem.

Por outro lado o Việt Võ Dạo que fazemos, em virtude certamente de Mestre Trần ter estudado Judo e Aikido ensina-nos a não nos opormos à força, mas a usar a força do outro a nosso favor “se te empurram puxa, se te puxam empurra” que aplicado ao dia a dia, tem-se-me revelado muito útil.

Qual é a sua abordagem ao ensinar Việt Võ Đạo a novos praticantes?

Precisaria de muito espaço para responder... ou dito de outra forma, é-me muito difícil responder, pois depende muito de quem se me apresenta e da breve análise que faço da pessoa (idade, género, compleição física, aspecto, etc.), do ambiente onde é dada aula, se são todos iniciados é uma coisa, se é alguém que vem experimentar numa aula curricular é outra, enfim são imensos os factores, mas dentro de todos estas coisas procuro dar-lhes o que me pareceu que vieram à procura e, ao mesmo tempo mostrar a enorme diversidade e amplitude que pode ter a prática de Việt Võ Dạo.

Como vê o futuro do Việt Võ Đạo, especialmente em relação à nova geração de praticantes?

Difícil. Há um enorme conjunto de constrangimentos que estamos a analisar e a trabalhar. Infelizmente diria que não há “nova geração”. As pessoas que nos procuram são poucas, bastante diferentes umas das outras, não chegando para se criarem aulas e classes especificas para elas, tendo, a maioria de se integrarem com praticantes com muitos anos de actividade, o que torna o ensino difícil e pouco adequado a tanta diversidade... É certo que são diferentes dos que nos procuravam há 10 anos, mas é-me ainda difícil reconhecer um padrão.

Nesta fase pós COVID, só nos estão a chegar crianças e, o trabalho com crianças é muito especifico e complexo, demorando a dar frutos, mas para os quais somos uma enorme mais valia, pois serão crianças diferentes das restantes e, se continuarem terão certamente um futuro em que Serão Fortes, Uteis e Felizes. Para que seja um futuro risonho, temos de investir fortemente para atrair “adolescentes”, em bom número, para termos possibilidade de com esses trabalhar de forma diferente, pois aí sim teremos um “padrão” e uma “nova geração” que poderá mais facilmente atrair outros e dar maior visibilidade ao que fazemos. Mas não desistimos e há, em especial na DAO, uma direcção que está a fazer um excelente trabalho, que poderá vir a dar frutos. O tempo o dirá.

Que conselhos daria a alguém que está a pensar começar a treinar Việt Võ Đạo?

Que procurasse vir de mente aberta, desse oportunidade a quem está a ensinar de lhe mostrar o quão enriquecedor pode ser uma prática como esta e que participasse o máximo possível às aulas, treinos complementares e estágios.

Qual é o seu Quyền favorito?

É-me muito difícil escolher, mas por razões semelhantes, talvez o Thiên Địa e o Bộ Pháp Quyền, ambos criados por Mestre Trần.

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